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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

NOITE FECHADA

"(...)

Nós fomos ter às portas, às barreiras,

Em que uma negra multidão se apinha

De tecelões, de fumos, de caldeiras.


Mas a noite dormente e esbranquiçada
Era uma esteira lúcida de amor;
Ó jovial senhora perfumada,
Ó terrível criança! Que esplendor!

E ali começaria o meu desterro!...
Lodoso o rio, e glacial, corria;
Sentamo-nos, os dois, num novo aterro
Na muralha dos cais de cantaria.

Nunca mais amarei, já que não amas,
E é preciso, decerto, que me deixes!
Toda a maré luzia como escamas,
Como alguidar de prateados peixes.

E como é necessário que eu me afoite
A perder-me de ti por quem existo,
Eu fui passar ao campo aquela noite
E andei léguas a pé, pensando nisto.

E tu que não serás somente minha,
Às carícias leitosas do luar,
Recolheste-te, pálida e sozinha,
À gaiola do teu terceiro andar!"

 

 Cesário VERDE, 1855-1886


RELACIONADO:

https://singularidadesderonsard.blogspot.com/2021/05/cesario.html 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A UNS OLHOS TRISTES

 "Que tinhas ontem tu quando te vi?  

Que novo encanto pode em ti haver.  

Que eu, que nunca parei a olhar para ti

 Que voltei duas vezes para te ver?

Olhei-te de todo te perdi, 

Deu-me a saudade enorme que senti,  

O apetite de a tornar a ter.."


António da Costa CARNEIRO, 1881-1934

terça-feira, 15 de outubro de 2024

POR AÍ

"Quando a encontro às vezes por ai,  

Como se ainda não tivesse visto 

Fico-me deslumbrado a olhar para si; 

Como a primeira vez em eu a vi;  

Na surpresa de haver mulher tão linda. 

E vou atrás de si de rua em rua. 

E simplesmente vou atrás de si, a decorar a graça, que é tão sua, 

Pra que a memoria me a reconstítua, 

Sempre que a não encontro por ai."


António da Costa CARNEIRO, 1881-1934


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

FLIRT

"O amor é um rio de luz... E d'uma água traiçoeira Que nos deslumbra e que seduz..."


António da Costa CARNEIRO, 1881-1934




Pensando em ti Linda, e nas sensações que me fizeste sentir!


STay on the path, Namaste


RELACIONADOS:

https://singularidadesderonsard.blogspot.com/2024/07/artificial.html

quinta-feira, 25 de julho de 2024

ARTIFICIAL

"Eu que pus sempre o meu maior cuidado Em ser simples, sincero, natural,  Fiz d'isso um culto tão exagerado Que me tornei um artificial."


António da Costa CARNEIRO, 1881-1934



terça-feira, 3 de outubro de 2023

JULGAMENTO

"Não julgues…

Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco…
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.

Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho…
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa

E toda a discussão é inútil."


 TAGORE, 1861-1941

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A MULHER PASSAGEIRA

"Esta mulher que prometeu vir

 Não é a mulher do meu desejo.

  è antes a mulher do meu tédio...


Ela virá dentro de uns instantes.

Vai bulir em todas as coisas,

Vai andar por estes tapetes,

Perguntará por outras mulheres.


Responderei a tudo com doçura...

Entretanto é a mulher do meu tédio.


E ao partir, distrída e fatigada,

Escolherá um livro na estante

Perguntando: «-Meu amor, vale a pena?»"



 Ribeiro COUTO, 1898-1963

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A DÉBIL

"Eu, que sou feio, sólido, leal,

A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
(...)"

Cesário VERDE, 1855-1886

CANTIGA D'AMIGO


"Senhor, eu vyvo coytada

vida, des quando vos non vi,

mays, poys vós queredes assy,

por Deus, senhor ben talhada,

querede-vos de min doer

ou ar leixade-m'ir morrer"




DINIS, Rei de Portugal, 1261-1325

terça-feira, 11 de julho de 2023

MIGUEL ANGELO

"Cinquenta anos contou sem ter amado!

Somente estremecia a Arte, a Glória,

E as bronzeadas páginas da História.

Onde firmou seu nome laureado.


Bem podia julgar-se forte e ousado,

Essa ideia, contudo, era ilusória,

pois ante o olhar sereno de Vitória,

Ajoelhou, como um leão domado.


Subiu-lhe o amor do coração aos lábios,

E amou-a! Não se livram os mais sábios

Dessa febre, que as almas nos comporta.


Amou-a o velho artista glorioso;

mas de encontro ao seu peito sequioso,

Só pode uni-la quando estava morta!"





 Alice MODERNO, 1867-1946

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

segunda-feira, 11 de julho de 2022

AMIGOS




Quero ser o teu amigo.

Nem demais nem de menos.
Nem tão longe nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida.
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade nem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo mas confesso
é tão difícil aprender.
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças.
Dá-me tempo, de acertar as distâncias.
Fernando PESSOA 1888-1935

terça-feira, 8 de março de 2022

A JOÃO DE DEUS

1830-1896


Hoje no dia do 192º Aniversário do nascimento deste grande poeta português, publico mais um dos seus poemas:


"INDEPENDÊNCIA

Não há talvez n mundo outra nação,
Tão respeitada e tão independente:
Conforme o que aí diz toda essa gente
E como muita, muitissima razão.

Ora se um estrangeiro, em conclusão
Ofende um português, tem certamente
De nos dar exemplar satisfação,
Seja quem for o mísero insolente.

Diz-se isto por aí com tal frequência
Que a agente chega a crer que não é mau
Citar lá fora a nossa procedência;

Mas Portugal não tem nem uma nau,
E a agente vai com essa independência
Gramando no Brasil carga de pau!"

 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

QUANDO TE VI...




 "Quando te vi, amei-te já muito antes.

Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te."

Fernando PESSOA 1888-1935

Eu e a minha chama gémea, e algumas almas gémeas também hahaha !!




quinta-feira, 10 de junho de 2021

QUEM PODE LIVRE SER, GENTIL SENHORA






Quem pode livre ser, gentil Senhora, Vendo-vos com juízo sossegado, Se o Menino que de olhos é privado Nas meninas de vossos olhos mora? Ali manda, ali reina, ali namora, Ali vive das gentes venerado; Que o vivo lume e o rosto delicado Imagens são nas quais o Amor se adora. Quem vê que em branca neve nascem rosas Que fios crespos de ouro vão cercando, Se por entre esta luz a vista passa, Raios de ouro verá, que as duvidosas Almas estão no peito trespassando Assim como um cristal o Sol trespassa.
                Luís Vaz de CAMÕES, c.1524-1580

sábado, 5 de junho de 2021

U SHOULD GO

 Someday i'll call and say: You should go,

Go ahead and be free,

be ice,

go free,

be fire,

run free,

be thunder,

dance free,

be you!

All that you are,

i am too,

words apart,

take me from you!


Stay on the path!!! namaste 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

A VERDADEIRA LIBERDADE

"A liberdade, sim, a liberdade!

A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança...
Sorriso da velha bondosa...
Apertar da mão do amigo [sério?]...
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote
Da casa do campo da minha velha infância...
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?"

 

 

 

Álvaro de CAMPOS, 1890-1935

segunda-feira, 31 de maio de 2021

DIA DE ANOS

Com que então caiu na asneira

De fazer na quinta-feira

Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois que se habitua,
Já não tem vontade sua,

E fá-los queira ou não queira!"


João de DEUS, 1830-1896

sábado, 29 de maio de 2021

LIBERTAÇÃO

"Fui à praia, e vi nos limos

a nossa vida enredada:

ó meu amor, se fugimos,

ninguém saberá de nada.

 

Na esquina de cada rua,

uma sombra nos espreita,

e nos olhares se insinua,

de repente uma suspeita.

 

Fui ao campo, e vi os ramos

decepados e torcidos:

ó meu amor, se ficamos,

pobres dos nossos sentidos.

 

Hão-de transformar o mar

deste amor numa lagoa:

e de lodo hão-de a cercar,

porque o mundo não perdoa.

 

Em tudo vejo fronteiras,

fronteiras ao nosso amor.

Longe daqui, onde queiras,

a vida será maior.

 

Nem as esperanças do céu

me conseguem demover

Este amor é teu e meu:

só na terra o queremos ter."

 

David MOURÃO-FERREIRA, 1927-1996

quinta-feira, 27 de maio de 2021

CESÁRIO

 

"O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!"

 

                   Cesário VERDE, 1855-1886

NOITE FECHADA

"(...) Nós fomos ter às portas, às barreiras, Em que uma negra multidão se apinha De tecelões, de fumos, de caldeiras. Mas a noite dorm...